quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
EXAGERANDO NA DOSE - PAULO COELHO
De acordo com a teoria da evolução das espécies, o meio foi determinante
para apontar os desafios a serem vencidos e, mais adiante, quais destas
espécies sobreviveriam. Mais do que tamanho, força ou agilidade, a
capacidade de adaptação acabaria por determinar o destino de cada espécie.
Os mamutes, fortes e vigorosos, sucumbiram. Os rinocerontes estão a caminho.
E mesmo as águias americanas, famosas pela sua envergadura, velocidade e
precisão parecem ter pouco tempo para fazerem apenas parte do passado.
Tão seletivo quanto o mundo animal, nosso mercado publicitário vive um
momento delicado. Se por um lado já nos víamos açoitados pela mentalidade do
"farinha pouca, meu pirão primeiro", agora esta se soma à "quem
(sobre)viver, verá". Diante de uma concorrência há sempre um publicitário
varejista de plantão capaz de fazer o cliente acreditar que o que nos
diferencia é o preço de cada um, e não a idéia. O cliente gosta, atiça esse
tipo de concorrência e, é claro, tira proveito disso.
Clientes agem e agirão sempre como predadores, portanto não podemos ser
inocentes a ponto de esperar deles o entendimento que o fim da espécie
publicitarius inteligentis também afetará o negócio dele, afinal seria o
mesmo que pedir ao lobo para ser comedido diante de um rebanho de ovelhas
perdidas. É certo que o lobo vai exagerar na dose e haverá de morrer de
fome, mas antes dele morrerão as ovelhas.
Conviver com um mercado cada vez mais competitivo não é um problema que
aflige somente o nosso negócio, mas talvez estejamos exagerando na dose
quando permitimos que o cliente comece a enxugar seu investimento pela
redução absurda da nossa rentabilidade. Perdemos importância dentro do
mercado? Obviamente que não, e até diria que muito pelo contrário, mas
estamos perdendo a nossa capacidade de impor limites. Temos um mercado cada
vez mais "juniorizado" porque não conseguimos mais segurar na profissão os
seniors, temos uma fuga de talentos para outras atividades porque
simplesmente não temos margem para pagar melhor.
Nosso negócio é comunicação, sabemos como alavancar produtos, despertar
desejo, gerar consumo. Sabemos conceituar produtos, diferenciá-los perante a
concorrência, explorar seus diferencias. Portanto, não haverão de ser as
novas tecnologias, nem os novos formatos da web, nem as mudanças no
comportamento da sociedade que nos imporão limites para continuarmos sendo
peça essencial nessa engrenagem, pois para estes desafios responderemos
sempre com a vanguarda que caracteriza a nossa profissão. Nossa maior
preocupação deve ser criar um mercado maduro, que atenda às expectativas de
nossos clientes, que alimente cadeia de bons parceiros e que possibilite
oportunidades de crescimento a nossos profissionais dentro do nosso mercado.
Afinal, o que o cliente quer quando nos procura é resultados, e não
descontos.
E se o cliente ainda se diz insatisfeito, lembre-se que cliente sempre quer
mais e pagando menos, tanto faz se o ambiente é um balcão de mercearia ou
uma mesa de negócios, afinal é assim que nós nos comportamos quando estamos
do outro lado.
*Presidente do Sindicato das Agências de Propaganda do Estado da Bahia (Sinapro-Bahia)
Artigo publicado no Jornal Correio*, do dia 5 de dezembro de 2010
FONTE: PORTAL DO SINAPRO BA
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